Trecho do livro "O Vendedor de Sonhos":


Trecho do livro "O Vendedor de Sonhos":
[...] Fez uma interpretação filosófica do mais famoso discurso do Mestre dos Mestres, o Sermão da Montanha.
Ele já tinha nos dito que amava esse texto e concordava  com Mahatma Gandhi que, se todos os livros sacros do mundo fossem banidos e sobrasse apenas o Sermão da Montanha, a humanidade não ficaria sem luz.
A plenos pulmões, bradou:
 - Felizes os humildes de espírito, pois deles é o reino da sabedoria. Mas onde estão os verdadeiros humildes, os que se esvaziam de si mesmos? onde se encontram os que reconhecem a sua insensatez? Em que ambiente estão os que corajosamente admitem sua pequenez e fragilidades? Onde estão os que combatem diariamente o orgulho?
Após dizer tais palavras, ele se fixou atentamente na multidão; viu rostos apreensivos, faces ansiosas. Tomou fôlego e continuou:
 - Felizes os pacientes, porque herdarão a terra. Que terra é essa? A terra da tranquilidade, os solos do encanto pela vida, o terreno do amor singelo. Mas onde estão os mansos? Onde estão os flexíveis? Em que espaços se encontram os que são amigos da tolerância? Onde estão os que lapidam a sua irritabilidade e ansiedade? Onde estão os que agem com brandura quando contrariados ou frustados? Muitos não são dóceis nem consigo mesmos. Vivem debaixo de cobranças e autopunição.
A multidão afluía cada vez mais em torno dele. elevou os olhos para o teto, abaixou-os lentamente e completou a interpretação da segunda bem-aventurança, invertendo os pensamentos clássicos de motivação
 - Parem com a necessidade neurótica de mudar os outros. Ninguém muda ninguém. Quem cobra mais dos outros que de si mesmo está apto para trabalhar numa financeira, mas não com seres humanos.
E imediatamente prosseguiu:
 - Felizes os que choram, por que serão consolados. Mas por que vivemos num mundo onde as pessoas escondem as lagrimas? Onde estão os que choram pelo egocentrismo que venda nossos olhos e nos impede de ver o que se passa na psique dos que amamos? Quantos medos ocultos nunca foram revelados? Quantos conflitos secretos nunca ganharam sonoridade? Quantas feridas nós causamos que nunca admitimos?
Enquanto se falava, as pessoas pensavam. Faziam um mapeamento nem sempre agradável das suas relações sociais.
 - Felizes os pacificados, pois serão chamados filhos do Autor da existência. Mas onde estão os que apaziguam as águas da emoção? Onde estão os mestres em resolver conflitos interpessoais? Não somos nós peritos em julgar os outros? Onde estão os que protegem, apostam, se entregam, reconciliam , acreditam? Toda sociedade implica divisão, toda divisão implica diminuição. Pacificar não é, portanto, ensinar a matemática da soma, mas compreender a matemática da subtração. Quem não compreende essa matemática está apto a conviver com outros animais e com maquinas, mas não com seres humanos.

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